segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Textura Musical


O masterclass de piano realizado no dia 16 de janeiro me surpreendeu. Os alunos, incluindo adultos, crianças e jovens, dispostos a passar um domingo se abrindo para a música, tocando, discutindo, perguntando e querendo chegar ao âmago do que está por trás da linguagem musical...

Foi inspirador e revelador! Monica Mochdeci abriu sua casa e presenteou a todos que ficaram encantandos em tocar no seu piano de cauda Yamaha C-2.



Abordamos muitos assuntos, entre eles: técnica pianística, como se preparar para uma performance em público, medo e ansiedade do artista, texturas musicais, idioma atonal e jazz, improvisação, estilos musicais, dentre outros.




Gostaria de falar sobre as texturas musicais hoje. Se compararmos a trama formada pelos fios de um tecido à uma obra musical, podemos perceber que o entrelaçamento dos sons também seguem texturas diferenciadas.


Em geral, podemos dizer que há 4 tipos de texturas na música ocidental. A textura monofônica é a mais simples de todas pois consiste numa única linha melódica sem harmonias de suporte. Aqui o decurso musical é monodimensional, isto é, se percebe apenas a primeira dimensão musical que é a sucessão dos signos musicais. Exemplos: canto gregoriano dos primeiros tempos da Igreja cristã, cantus firmus, e até boa parte da música oriental como na música chinesa, indiana, japonesa e países árabes.




A textura polifônica é percebida quando duas ou mais linhas melódicas de igual importância são tecidas simultaneamente. O decurso musical neste caso é bidimensional pois, além da sucessão dos signos musicais (primeira dimensão), a simultaneidade dos signos musicais (segunda dimensão) também é percebida. Se o idioma utilizado na obra musical for o idioma tonal, ela se torna tridimensional, já que o idioma tonal cria a percepção da profundidade (terceira dimensão) em música ao criar uma convergência dos signos musicais em torno de um polo chamado de tônica dando a sensação de tonalidade. Obras primas da textura polifônica tridimensional são as 48 fugas do Cravo Bem Temperado de J. S. Bach.



A textura homofônica ocorre quando o interesse musical centra-se na percepção de uma única linha melódica que aqui acontece com acompanhamento. Falando de uma forma mais simples, é a melodia com acompanhamento. Por ter uma melodia (sons sucessivos) acompanhada (sons simultâneos aos da melodia), percebe-se de imediato uma dimensão bidimensional. Uma grande parte da música ocidental homofônica foi composta no idioma tonal, portanto a grande maioria denota uma dimensão tridimensional.  



Com a transcendência da música tonal, a primeira metade do século XX tende a um retorno à dimensão bidimensional na música ocidental. A tonalidade perde sua força de convergência e um novo idioma atonal surge, além de ocorrer neste mesmo período um retorno aos modos antigos e até mesmo a criação de novos modos, como por exemplo, a famosa escala de tons inteiros de Debussy. 


A textura holofônica ocorre quando a música  é multidimensional, isto é, quando há a integração dos signos musicais visando um todo. É um estado caracterizado pela integração das três dimensões tradicionais num plano multidimensional através do qual não há mais hierarquia de sons, nem linhas melódicas definidas. A percepção aqui não  acontece de forma causal (essencialmente linear), mas é uma percepção que reúne, junta, integra as parte num todo único, dando uma percepção de uma forma esférica. Porém uma esfera sem limites, que se mescla ao universo infinito do espaço-tempo. Ouça Lux Aeterna de Ligeti e o espaço-tempo de onde ocorre a forma multidimensional é um tapete sonoro contínuo. Ouça Fragmente-stille, an diotima de Luigi Nono e este mesmo espaço-tempo é o silêncio.



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