segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Estudar?


Cada vez mais tenho observado que a prática de estudar deve vir de uma reflexão e de um estado interior de intenção consciente.

Há uma tendência das pessoas confundirem os meios com os resultados. O que garante o resultado é a imagem estética que a prórpia pessoa tem da obra a ser "estudada". Repetir e memorizar são práticas de uma mente linear que pensa que ao fazer A se chega a B. A mente multidimensional que é a mente da consciência não é linear e sim circular, em espiral. Primeiro se escuta a imagem estética interiormente, e depois esculpimos o corpo até ele realizar aquela imagem.

A mão (o braço, etc) nunca fica estática. Sempre caminha para o som caminhar. Tudo é movimento. Sem movimento não há vida. Sem movimento não há ritmo. A melhor definição de ritmo me foi dada pelo meu grande professor de harmonia, contraponto e análise Antônio Guerreiro: "Ritmo é movimento."

Então, que tal olharmos para o estudar de maneira diferente? Não tem que estudar, temos que FAZER. Simplesmente, veja o que quer e então FAÇA. Busque fazer coisas diferentes, saia dos hábitos para criar novas sinapses e busque suas decisões.

Lembre-se que há basicamente dois tipos de pensamentos: os que ocorrem (que não são seus) e os que você cria conscientemente. Carl Jung falava: "Eu não acredito, eu sei."

Me despeço com uma frase que usamos muito nos EUA: "Leap, and the net will appear." Traduziria como: "Salte, que a conexão aparecerá." Ouse!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Imagem Estética



O que você compreende sobre o que seja a imagem estética de uma obra de arte a partir dos textos a seguir?


“Um pintor que trabalha com tinta nanquim senta-se diante dos seus alunos, Examina os pincéis e arruma-os pausadamente. À sua frente, sobre uma esteira, está estendida uma longa e estreita tira de papel. Finalmente, depois de haver permanecido durante longos momentos em profunda concentração, cria, com traços rápidos e precisos, uma imagem que, não necessitando de nenhuma correção, serve de modelo aos seus alunos”.  (Herrigel, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen)

“Todo o segredo do talento e do gênio consiste em viver plenamente a música no cérebro antes de que o dedo se ponha sobre a tecla ou que o arco roce a corda”. (Neuhaus, A arte do Piano)

“Na execução de S. Richter, tenho a impressão de que toda obra que ele interpreta , por mais grandiosa que seja, se extende ante seus olhos como uma imensa paisagem, tanto em seu conjunto e em todos seus detalhes, percebida como uma mirada de águia de uma altura extraordinária e com uma nitidez prodigiosa”.  (Neuhaus, A Arte do Piano)

“Dia após dia ficava mais fácil levar a cabo, sem esforço, as sugestões técnicas que eram propostas, mas devíamos também ser capazes de ter inspirações próprias, indispensáveis para nosso enriquecimento interior. Assim, por exemplo, a mão que guia o pincel, no exato momento que o espírito começa a elaborar as formas, já encontrou, juntamente com esse, a idéia que pretendem realizar: o aluno, por causa disso, não sabe se o ‘autor’ da obra é a mão ou o espírito. Mas para que isso possa ocorrer, quer dizer, para que o trabalho se espiritualize, se faz necessária a concentração de todas as energias físicas ou psíquicas. Em nenhuma circunstância, é possível prescindirmos da concentração”. (Herrigel, A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Textura Musical - Exemplos Musicais

Atendendo ao seu pedido, aqui você poderá ouvir exemplos das texturas musicais explicadas no post de 17 de janeiro.

                             Textura Monofônica

                                                       Canto Gregoriano 


                              Textura Polifônica

                                    Machaut: Missa de Notre Dame 


                              Textura Homofônica

                                                  Chopin: Prelude no. 4     

                  
                                    Schubert:  Lied Am Fenster                    
                                                                                                              


                                           Schumann: Traumerei




                                  Textura Holofônica

Ligeti: Lux Aeterna


                       Luigi Nono: Fragmente-stille, an diotima

                                                                            
                      Maria Alice de Mendonça: Metamorphosis               

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Interpretação de um artista: em honra ao meu professor Vitaly Margulis


Um dos mais geniais pianistas de nosso tempo, Vitaly Margulis, meu professor na UCLA - University of California, Los Angeles.

Escutem a genialidade de sua imaginação ! Como cria inesperadas texturas e timbres criando uma forma musical totalmente nova, viva e única. Com frases bem delineadas e grandes seções bem marcadas, Margulis ainda faz insurgir novos matizes sonoros também na mão esquerda neste estudo op. 10 no. 2 de Chopin.

Quando perguntei um dia a ele sobre como obter uma técnica pianística de excelente qualidade, ele respondeu dizendo que era só tocar muito bem os estudos de Chopin,e em especial este que vc ouve neste vídeo.

Aliás, me lembro bem quando Linda Bustani, um dos grandes nomes do piano brasileiro e minha professora no Brasil, fez a todos nós seus alunos de então a trabalhar efusivamente nos estudos op.10 no.1 e no.2 de Chopin diariamente.

Estudávamos inclusive o op.10 no. 1 com a mao esquerda também (originalmente escrito para mão direita). Para o estudo op.10 no 2, Linda encomendou a outra de suas alunas, Monique Aragão, que compusesse um estudo para mão esquerda. Monique compôs este estudo e eu o toquei muitas vezes em público no Brasil e no exterior. Daí surgiu o caderno de 6 estudos para mão esquerda de Monique, todos muito bons e lindos!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Textura Musical


O masterclass de piano realizado no dia 16 de janeiro me surpreendeu. Os alunos, incluindo adultos, crianças e jovens, dispostos a passar um domingo se abrindo para a música, tocando, discutindo, perguntando e querendo chegar ao âmago do que está por trás da linguagem musical...

Foi inspirador e revelador! Monica Mochdeci abriu sua casa e presenteou a todos que ficaram encantandos em tocar no seu piano de cauda Yamaha C-2.



Abordamos muitos assuntos, entre eles: técnica pianística, como se preparar para uma performance em público, medo e ansiedade do artista, texturas musicais, idioma atonal e jazz, improvisação, estilos musicais, dentre outros.




Gostaria de falar sobre as texturas musicais hoje. Se compararmos a trama formada pelos fios de um tecido à uma obra musical, podemos perceber que o entrelaçamento dos sons também seguem texturas diferenciadas.


Em geral, podemos dizer que há 4 tipos de texturas na música ocidental. A textura monofônica é a mais simples de todas pois consiste numa única linha melódica sem harmonias de suporte. Aqui o decurso musical é monodimensional, isto é, se percebe apenas a primeira dimensão musical que é a sucessão dos signos musicais. Exemplos: canto gregoriano dos primeiros tempos da Igreja cristã, cantus firmus, e até boa parte da música oriental como na música chinesa, indiana, japonesa e países árabes.




A textura polifônica é percebida quando duas ou mais linhas melódicas de igual importância são tecidas simultaneamente. O decurso musical neste caso é bidimensional pois, além da sucessão dos signos musicais (primeira dimensão), a simultaneidade dos signos musicais (segunda dimensão) também é percebida. Se o idioma utilizado na obra musical for o idioma tonal, ela se torna tridimensional, já que o idioma tonal cria a percepção da profundidade (terceira dimensão) em música ao criar uma convergência dos signos musicais em torno de um polo chamado de tônica dando a sensação de tonalidade. Obras primas da textura polifônica tridimensional são as 48 fugas do Cravo Bem Temperado de J. S. Bach.



A textura homofônica ocorre quando o interesse musical centra-se na percepção de uma única linha melódica que aqui acontece com acompanhamento. Falando de uma forma mais simples, é a melodia com acompanhamento. Por ter uma melodia (sons sucessivos) acompanhada (sons simultâneos aos da melodia), percebe-se de imediato uma dimensão bidimensional. Uma grande parte da música ocidental homofônica foi composta no idioma tonal, portanto a grande maioria denota uma dimensão tridimensional.  



Com a transcendência da música tonal, a primeira metade do século XX tende a um retorno à dimensão bidimensional na música ocidental. A tonalidade perde sua força de convergência e um novo idioma atonal surge, além de ocorrer neste mesmo período um retorno aos modos antigos e até mesmo a criação de novos modos, como por exemplo, a famosa escala de tons inteiros de Debussy. 


A textura holofônica ocorre quando a música  é multidimensional, isto é, quando há a integração dos signos musicais visando um todo. É um estado caracterizado pela integração das três dimensões tradicionais num plano multidimensional através do qual não há mais hierarquia de sons, nem linhas melódicas definidas. A percepção aqui não  acontece de forma causal (essencialmente linear), mas é uma percepção que reúne, junta, integra as parte num todo único, dando uma percepção de uma forma esférica. Porém uma esfera sem limites, que se mescla ao universo infinito do espaço-tempo. Ouça Lux Aeterna de Ligeti e o espaço-tempo de onde ocorre a forma multidimensional é um tapete sonoro contínuo. Ouça Fragmente-stille, an diotima de Luigi Nono e este mesmo espaço-tempo é o silêncio.



quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Arte objetiva


Gurdjieff, armênio, foi um mestre de consciência desperta do início do sec XX. Referente ao propósito da música, ele falava da diferença entre arte subjetiva e arte objetiva. Uma vez disse: "eu meço o mérito da arte pela sua consciência".

Ele compreendeu que a maior parte da música que ouvimos é somente arte subjectiva, um fenómeno inteiramente acidental que aparece de um estado subjetivo flutuante do compositor no momento da sua composição e que afeta o ouvinte de acordo com o estado, também totalmente subjetivo no qual se encontra quando a ouve. A "arte objectiva", pelo contrário, não contém nenhum elemento acidental na sua criação e no seu efeito. É uma linguagem universal, que atua da mesma forma em todas as pessoas, de acordo com o nível de ser.

Osho, indiano, também de consciência desperta, falou da mesma qualidade da arte usando os termos "objetiva" e "subjetiva" propostos por Gurdjieff. Ele fala que a arte subjetiva significa que você está derramando sua subjetividade sobre a tela, seus sonhos, suas imaginações, suas fantasias. É uma projeção da sua psicologia. A arte objetiva é exatamente o oposto. O homem não tem nada para jogar fora, ele está completamente vazio, absolutamente limpo. Desse silêncio, dessa vacuidade surge o amor, a compaixão. E desse silêncio surge uma possibilidade para criatividade.

Através de um ouvir consciente pode-se acessar a sabedoria da arte objetiva, despertando nosso estado de não-mente. A isso chamamos de musicosofia. Por isso Beethoven disse que aquele que compreendesse sua música se livraria de todo e qualquer sofrimento.

Uma de minhas alunas de musicosofia, Ana Jabour, em três aulas com a Primeira Sinfonia de Beethoven fez descobertas transformadoras e escreveu:  "os sons sem obrigações melódicas me fazem bem."  Sua primeira descoberta foi que está em maior ressonância com a música multidimensional que nasce da não-mente. As obrigações melódicas a que se refere retratam a mente linear, fruto de um pensamento racional e que na música gera formas tridimensionais. Três semanas ouvindo conscientemente a esta sinfonia, escreveu novamente: "de repente me familiarizei com a primeira sinfonia. E, no último movimento, parecia eu estar dentro da música de Beethoven... ou era ela que estava em mim!"

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ela, a arte!


Sempre fui muito grata a todos os professores que tive, e ainda sou... e escolhi os melhores que pude ter. E me lembro que durante aquela época o que eu realmente buscava não era a arte e sim uma maneira de usá-la para ser boa, embora isso não fosse consciente e me impulsionou a um apreder muito sólido.


Mas depois que aprendi muito, descobri que ainda não tinha visto nem compreendido a essência da arte. Então começou todo um processo singular, único e, porque não dizer, solitário. Foi então que ela, a arte, se revelou por inteiro.


Aprendi música com a própria música, isto devo dizer. Aprendendo a compreender a partitura sem os meus olhos pessoais, pude dela ouvir a fonte sonora daqueles signos e então ela, a música, me ensinou tudo, me ensinou quem ela era.


Às vezes imagino que ela também se revelava assim aos compositores, que tentaram descreve-las na partitura. Não seria então este o caminho que devíamos fazer? Olhar a partitura, desprovidos do ego e do aprendido, e ouvir a fonte sonora que originou aqueles signos? Qual seria então a intenção do compositor? Como ver a partitura sem usar os processos de pensamentos conhecidos? Como ouvir num estado de silêncio interior?

Sinapse Cerebral


Quando aprendemos alguma coisa, uma parte do cérebro se conecta a outra. Cada célula cerebral (neurônio) tem um potencial elétrico particular em minivolts. Quando aprendemos algo, ou fazemos algo ou mesmo quando pensamos há uma interconexao entre as neurônios. A essa interconexão se dá o nome de sinapse cerebral (região entre neurônios por onde passam estímulos nervosos). A sinapse é portanto quíimica e elétrica.

Neuhaus, em seu livro A Arte do Piano, já afirmava que não há nada que aconteça nos dedos que antes não tenha aconntecido no cérebro. Sim, o conhecimento é algo químico e elétrico. Os pensamentos produzem resultados fisiológicos.

A conexão mente-corpo é bioquímica e o poder dessa consciência é imenso.

No aprendizado da arte musical, dar comandos precisos (nao vagos) produzem resultados fisicos imediatos. Para que a mente seja treinada em comandos precisos e objetivos, deve-se treinar estes comandos em voz alta, e direcionados para a parte do corpo que deverá executar o movimento. Lembre-se que o comando deve ser uma afirmativa (nunca negativa). Experimente!

Ter uma mente afiada, afiNada com o corpo e o som (imagem estética da obra musical) é a unidade da qual nasce a consciência do não pensar, do ser UM com a música.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Lembrando meu professor Orlando Cani...

Por alguns meses antes de me mudar para Los Angeles, fui treinada por Orlando Cani, grande mestre do corpo, da consciência e que preparou tantos atletas medalistas de ouro do Brasil, além de atores, artistas...

Hoje, meditando sobre meus alunos e sobre nossas aulas, quis compartilhar com vocês alguns ensinamentos vívidos com esse grande mestre. São ensinamentos que realinham corpo, mente e espírito, preparam a totalidade de nosso ser para a melhor qualidade de performance que podemos potencializar.

Um corpo em movimento, sempre está afetado pela gravidade e pela resistência.

Não se preocupe com nada. Observe e lembre!

Sempre que se expressar, imagine diagramas, situações, imagine algo... só assim se expressa a emoção... imaginação é tudo!

Não pense. Sinta!

A energia vem primeiro de dentro. O átomo é energia e se desloca sem o nosso comando racional. Sinta a energia dentro, se movendo!

Treinar tanto que depois fique natural e espontâneo.

Treinar com emoção como no palco. Na hora, emocionar-se será natural, sem esforço.

Fechar sentidos para dentro.

Auto-observação e investigação. Transpor limites.

Observar-se para saber o momento de diminuir para não estressar-se.

Sucesso = nada de ansiedade (respiração)

Conheça mais sobre Orlando Cani em: http://www.bioginastica.blogspot.com/

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sobre a interpretação artística ...

Hofmann, Josef. Piano Playing with Piano Questions Answered. New York, NY: Dover
Publications, 1976

            This book is written by one of the greatest pianists of all times, Josef Hofmann. He was also succeeded as a writer. Generally, this book is about Hofmann’s experience concerning piano performance (such as touch, technique, the use of pedal, style, how to study a piano piece, fingering, memorization, and so on). The chapter on which he relates how Anton Rubisntein taught him to play is special and has many essential thoughts about Art. This part is unique in the piano bibliography because Hofmann was the only private student that Rubinstein had in life. Through Hofmann, we can find out many of Rubinstein’s philosophical thoughts. Hofmann describes deeply about how to achieve an artistic interpretation. “Only by careful study of each work by itself can we find the key to its correct conception and rendition. We will never find it in books about the composer, nor in such as treat of his works” (pages 49,50).