quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Arte objetiva


Gurdjieff, armênio, foi um mestre de consciência desperta do início do sec XX. Referente ao propósito da música, ele falava da diferença entre arte subjetiva e arte objetiva. Uma vez disse: "eu meço o mérito da arte pela sua consciência".

Ele compreendeu que a maior parte da música que ouvimos é somente arte subjectiva, um fenómeno inteiramente acidental que aparece de um estado subjetivo flutuante do compositor no momento da sua composição e que afeta o ouvinte de acordo com o estado, também totalmente subjetivo no qual se encontra quando a ouve. A "arte objectiva", pelo contrário, não contém nenhum elemento acidental na sua criação e no seu efeito. É uma linguagem universal, que atua da mesma forma em todas as pessoas, de acordo com o nível de ser.

Osho, indiano, também de consciência desperta, falou da mesma qualidade da arte usando os termos "objetiva" e "subjetiva" propostos por Gurdjieff. Ele fala que a arte subjetiva significa que você está derramando sua subjetividade sobre a tela, seus sonhos, suas imaginações, suas fantasias. É uma projeção da sua psicologia. A arte objetiva é exatamente o oposto. O homem não tem nada para jogar fora, ele está completamente vazio, absolutamente limpo. Desse silêncio, dessa vacuidade surge o amor, a compaixão. E desse silêncio surge uma possibilidade para criatividade.

Através de um ouvir consciente pode-se acessar a sabedoria da arte objetiva, despertando nosso estado de não-mente. A isso chamamos de musicosofia. Por isso Beethoven disse que aquele que compreendesse sua música se livraria de todo e qualquer sofrimento.

Uma de minhas alunas de musicosofia, Ana Jabour, em três aulas com a Primeira Sinfonia de Beethoven fez descobertas transformadoras e escreveu:  "os sons sem obrigações melódicas me fazem bem."  Sua primeira descoberta foi que está em maior ressonância com a música multidimensional que nasce da não-mente. As obrigações melódicas a que se refere retratam a mente linear, fruto de um pensamento racional e que na música gera formas tridimensionais. Três semanas ouvindo conscientemente a esta sinfonia, escreveu novamente: "de repente me familiarizei com a primeira sinfonia. E, no último movimento, parecia eu estar dentro da música de Beethoven... ou era ela que estava em mim!"

6 comentários:

  1. "os sons sem obrigações melódicas", "fruto de um pensamento racional".

    O que significa isso em música ?

    Qual a diferença do ouvir consciente, e do ouvir apenas por ouvir mas sentindo a música, da no mesmo ?

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  2. Leia as postagens em MariaAlicePiano.blogspot (ou clique em "Veja tambem os meus projetos" neste blog) e me diga o que consegue apreender em resposta a estas suas perguntas.

    Leia na seguinte ordem: "Arte no seculo 21" (5 dez), "Arte no seculo 21" (20 nov), "A Música e o modelo holográfico" e por último "Vibração, matéria e forma". Aguardo!

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  3. Hum, eu ja li, sei sua resposta.

    Porém, minha pergunta em si não é a procura da resposta, mas um forma de demonstrar a minha opinião sobre o tema, mas parece que ela é tão instável que é melhor continuar escutando a música, sem tentar explicar.

    Hoje descobri uma música muito boa, sinfonia no 7 de Gustav Mahler, o terceiro e o quarto movimento me chamo atenção.

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  4. Alex Kid sou eu, estava logado em outra conta, nem percebi.

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  5. Maria Alice, encontrei alguns trechos escritos por Kandinsky, de seu livro - Do espiritual na arte - e creio que, de certa forma, vem de encontro com a expressão da consciência através da arte. Suas diversas manifestações encontram-se interligadas. Segundo o autor, "A arte deve corresponder a uma necessidade interior, buscando, por certo, suas fontes em sua época mas, sobretudo, gerando o futuro.[...] O efeito sensorial da cor é de curta duração e de pouca importância. O que conta é a ressonância espiritual, a ação direta da cor sobre a alma.'A cor é a tecla. O olho é o martelo. A alma o piano de inúmeras cordas'".
    Assim, o artista deve entrar em contato eficaz com a alma humana, garantia de profundidade cósmica da arte.
    O referido livro foi escrito em 1910 e de 1911 a 1912, teve três edições sucessivas, sendo um dos livros mais lidos nos ateliês e bibliotecas - objeto de inúmeras discussões calorosas nos meios intelectuais. Ele aborda sobretudo questões da pintura, porém estabelece relações com a música e a literatura.

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  6. Claudia, que bom vc por aqui e por trazer o manifesto de Kandinsky às nossas reflexões! Isso é tão apropriado e verdadeiro que um dos capítulos de minha tese de doutorado (com lançamento em livro ainda para 2011) é dedicado à relação de Kandinsky com Schoenberg e como buscavam a expressão do espiritual através da Arte. Vou postar algo a mais sobre isso.

    Tanto Kandinsky como Schoenberg procuravam a verdade na arte. Os dois buscavam um denominador comum entre a arte visual e a música, tendo a Síntese da Arte como objetivo final. Os dois experimentaram com a sintestesia de cor/som. Ambos acreditavam que a fonte essencial do processo criativo estava enraizado na intuição ou na construção (a abordagem intelectual). Schoenberg proclamou a “emancipação da dissonância” e a interpretação da dissonância teve um papel importante em Do Espiritual na Arte de Kandinsky.

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